A bala perdida

A bala perdida(*)    –    Autor: Carlos Benites

Ouve-se o estampido

Um som surdo

Seco

Misturado ao som crescente da chuva que caía

FORTE

Outro som,

Como um irmão gêmeo

Outro e outro

Tem Fardado

Disparando a todo lado

Fardado sendo arrebentado

Fardado, você é explorado!

E os metais viajam pelo ar

Três encontram o Paço

O outro insiste em voar

E voa, voa

Por entre os pingos da chuva

Que tentam pará-lo

Deslizam por ele

Lavam seu corpo

Mas não limpam seu espírito

Assassino

Feroz

Sanguinário

Que insiste em seguir

Persistente

Sobrevoa a cidade

Com fogueiras juninas

Janelas quebradas

Vidros estilhaçados

Rostos cobertos

Que vandalizam

Os vândalos

de terno e gravata

Moços com cartazes

De sentidos diversos

Querendo saúde

Dignidade, educação

Respeito

E recebem fumaça

Spray do ardor

Que não é de paixão

Borduna na testa

E também a prima

Do metal voador

De borracha

Fardado, você é explorado

Fardado, vem pra nosso lado

Fardado, estamos desarmados

A moça de rosto pintado

Bandeira e lenço

Caminha pela rua

Gritava alegre

Vem pra rua

Vem pra luta

O Rio acordou

E de repente

A moça bonita para

Para de sorrir

E GRITA

O metal voador

De fúria maldita

Encontrou o seu peito

Manchando a bandeira

Avermelhando o asfalto

Ferindo a cidade

E a inocência perdida

Roubou uma vida

Mas não matou a esperança.

Rio de Junho

Dezessete

(*) Poesia classificada em 2. lugar no  Prêmio UFF de Literatura 2013.

4 Respostas to “A bala perdida”

  1. Luciana Lage Says:

    Grande autor … adorei a poesia.

  2. Luciana Lage Says:

    Adorei a poesia … grande autor!

  3. maria Says:

    Gostei…Instigante e esperançoso.

  4. Jacqueline Barros! rsrs Says:

    Eu simplesmente adorei a poesia …. Sentimento de revolta, indignação à flor da pele! Parar se sorrir e gritar!!! Adorei, adorei, adorei!!!

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